O espaço das cidades normalmente afasta aqueles animais denominados de selvagens (ou silvestres), contudo, estamos vendo cada vez mais notícias desses animais aparecendo na frente de nossas casas. Como aconteceu na última semana na Vila Tibério, onde uma onça parda (ou suçuarana) foi filmada correndo nas ruas pela madrugada.
Qual a razão para esse animal entrar praticamente no centro da cidade? O que ela procurava, ou será que fugia de algo?
Cada vez mais aumentamos o espaço ocupado por nossas cidades, plantações, construções de estradas, etc. Isso coloca esses animais em contato conosco, ainda que estes procurem fugir, no final das contas eles não possuem alternativa. A busca por alimento pode acabar levando-os a atacar animais domésticos, invadir plantações, procurar lixo, seja lá o que for, faz com que tenham de entrar em contato conosco. Outro ponto comum na vida destes animais é que assim que um jovem assume a condição de adulto, este terá de enfrentar os desafios de se inserir na estrutura hierárquica de sua espécie, competindo com outros animais, daí ter de procurar espaços não ocupados pelos animais já estabelecidos na região. Logo, este indivíduo terá de explorar alguma região que não foi ocupada por outro animal de sua espécie.
Há uma longa série de possibilidades que poderíamos aqui discorrer, cogitando inúmeras situações, mas todas sempre acabarão de alguma forma prejudicando esses animais, seja por perderem seu habitat, ser isolado de seus parceiros, atropelamentos, de alguma forma serão severamente prejudicados.
Com as taxas de urbanização sempre aumentando teremos uma necessidade premente de entender como irá se desenvolver as diferentes interações entre nós e as espécies mais comuns que adentram nossas cidades, bem como outros espaços urbanos para assim minimizar-mos estes conflitos. Temos vários exemplos preocupantes para essa situação, alguns deles: transmissão de doenças, ataques a humanos e animais domésticos com uma ampla gama de danos, para todos os envolvidos.
Há por outro lado os aspectos positivos, que também devem ser estudados. Todos nós, ao menos a maioria, aprecia o canto dos pássaros pela manhã. Temos uma imensa quantidade de outros exemplos, a polinização de nossas plantações, etc. sempre no sentido da melhoria do nosso bem estar, justamente a partir do contato com estes animais.
Sempre irá existir a possibilidade de algum animal selvagem entrar em contato conosco, das mais variadas formas, entretanto precisamos ter em mente que nem sempre teremos de submetê-los ao confinamento ou abate. Pelo contrário, muitos desses animais estão apenas num momento de trânsito e confiná-los é decretar a perda desse elemento em toda uma cadeia já prejudicada por vários motivos. Com nossas cidades cada vez mais amplas e super populosas, limitamos as fontes de recursos para esses animais, precisaremos então aprender e desenvolver uma tolerância com essas espécies, para que possamos administrar esses denominados conflitos, que para nós são sempre menores, muito menores. Precisamos ajudar a criar mais espaços onde os animais possam se alimentar, e levar suas vidas de maneira independente de nossas atividades, ainda que sejamos bons vizinhos.
Gelson Genaro
Médico veterinário formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Jaboticabal (SP), com mestrado e doutorado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP em Fisiologia. Professor da disciplina Bem Estar Animal, no Centro Universitário Barão de Mauá, de Ribeirão Preto (SP)
Fonte vídeo: Olhar animal
