Dia de Conscientização da Cardiopatia Congênita

Todos os anos, cerca de 29 mil bebês brasileiros nascem com malformação no coração; em Ribeirão Preto, o Sinhá Hospital Materno Infantil realiza o atendimento de 400 casos por ano

Em 12 de junho, é celebrado o Dia de Conscientização da Cardiopatia Congênita, uma malformação no coração que acomete cerca de 29 mil bebês brasileiros todos os anos e que requer, em grande parte dos casos, por cirurgias, muitas delas urgentes. Referência em cirurgia cardíaca infantil no interior do estado de São Paulo, o Sinhá Hospital Materno Infantil alerta para a importância de divulgar a data.

“É preciso levar esclarecimento para a população sobre as cardiopatias congênitas e a importância do diagnóstico precoce”, explica Ricardo Sgarbieri, cirurgião responsável por este serviço no Hospital, que já realizou 600 cirurgias cardíacas infantis desde 2005.

Cardiopatia congênita é um termo genérico utilizado para descrever alterações do coração e dos grandes vasos, que ocorrem enquanto o feto está se desenvolvendo no útero. De acordo com dados da American Heart Association, pode afetar 1 em cada 100 crianças, sendo a alteração congênita mais comum.

Algumas cardiopatias podem ser diagnosticadas ainda intra-útero, por meio da ecocardiografia fetal, outras podem se manifestar logo após o nascimento e precisar de tratamento e até de uma cirurgia nos primeiros dias de vida. Outras ainda podem ter manifestações mais discretas e serem diagnosticadas apenas mais tarde.

Há inúmeros tipos de cardiopatia congênita (veja abaixo) e cada uma pode se manifestar de uma forma. Algumas mais simples não apresentam sintomas, mas a doença pode ser diagnosticada pela presença de um sopro identificado pelo médico pediatra. Em casos mais graves, o bebê nasce com uma cor azulada da pele e mucosas (chamada de cianose). Outros pacientes podem apresentar cansaço às mamadas ou aos esforços, ganho de peso deficiente, bronquites e ou pneumonias de repetição.

No Sinhá Hospital Materno Infantil, todos os tipos de cardiopatias já foram tratados com sucesso, incluindo as mais complexas e raras como ventrículo único, transposição das grandes artérias, atresia tricúspide, interrupção do arco aórtico, defeito do septo AV e hipoplasia do coração esquerdo. “Graças a um trabalho de equipe, que inclui profissionais de diversas áreas como cardiologia pediátrica, ecocardiografia, anestesia, fisioterapia, psicologia e cuidados de UTI temos tido excelentes resultados na correção destas cardiopatias, inclusive em crianças no período neonatal (primeiras semanas de vida)”, finaliza Sgarbieri.

Confira algumas das cardiopatias mais frequentes:

Permeabilidade do canal arterial (PCA): muito comum em prematuros, é o defeito extra-cardíaco mais comum. Representa a comunicação da aorta com a artéria pulmonar. Geralmente seu diagnóstico leva à cirurgia.

Coarctação da aorta: é um estreitamento da aorta após a saída do coração que pode precisar de cirurgia de emergência. As crianças com esta condição podem apresentar hipertensão arterial e geralmente têm uma diminuição dos pulsos dos pés em comparação com as mãos.

Forame oval patente: muito comum na população, geralmente não há indicação de tratamento cirúrgico, apenas em casos de derrames (AVC) com origem embólica.

Comunicação inter-atrial (CIA): Consiste em uma falha na divisão dos átrios, permitindo a passagem do sangue de um lado para outro, é a cardiopatia congênita mais comum do adulto, pois geralmente dá poucos sintomas atrasando seu diagnóstico. A cirurgia geralmente deve ser feita na idade pré-escolar e sua indicação depende da repercussão da doença, determinado pelo ecocardiograma.

Comunicação inter-ventricular (CIV): consiste na comunicação entre os dois ventrículos, o sangue passa do lado esquerdo para o direito pela diferença de pressão e, se não tratado, pode levar a hipertensão pulmonar. Uma parcela dos casos pode ter cura espontânea, é comum ouvir que determinada pessoa tinha sopro que sumiu após alguns anos. A cirurgia é indicada conforme o tamanho e a localização da lesão no coração além da sua repercussão determinada pelo ecocardiograma.

Defeito do Septo AV: é uma doença complexa, que frequentemente ocorre associada à Síndrome de Down, consiste na presença de uma falha entre os átrios e os ventrículos e a presença de uma válvula única entre eles, no lugar de duas. As crianças com esta doença devem realizar a cirurgia até um ano de idade, pelo risco maior de hipertensão pulmonar.

Tetralogia de Fallot: consiste em um estreitamento da saída do ventrículo direito e uma abertura entre os ventrículos (CIV), desta maneira o sangue sem oxigenação passa para a circulação do corpo, deixando a criança cianótica (azulada). Em alguns casos uma cirurgia tem que ser feita logo após o nascimento. Em outras pode ser feita após alguns meses, conforme a gravidade dos sintomas.

Transposição das Grandes Artérias: seu diagnóstico implica em uma cirurgia nas primeiras semanas de vida. Consiste na troca da posição dos vasos que saem do coração e sua cirurgia promove a inversão para a posição adequada (cirurgia de Jatene). As crianças com este diagnóstico precisam de atendimento em um centro especializado, uso de medicações especiais, às vezes cateterismo e, certamente, de cirurgia.

Hipoplasia do Coração Esquerdo: é a cardiopatia mais grave, necessita de tratamento logo após o nascimento em uma unidade especializada, com administração de medicações especiais. Consiste no desenvolvimento inadequado de toda parte esquerda do coração, seu tratamento inicial pode ser uma cirurgia para transformar o lado direito na bomba principal do coração (cirurgia de Norwood). Mas é uma cardiopatia que exige várias cirurgias para sua correção adequada.

Ventrículo único: nome genérico para várias situações onde apenas um ventrículo deverá manter toda a função cardíaca, podendo corresponder a casos de hipoplasia do coração esquerdo, atresia tricúspide, transposição com estenose pulmonar, dupla via de entrada de ventrículo esquerdo, defeito de septo desbalanceado, etc. As crianças que têm esta situação devem passar também por várias cirurgias e necessitam de acompanhamento com cardiologista especializado por toda a vida.