Meu cão deve comer só ração?

Ou comida natural? E restos de comida, como pizza ou lasanha?

Alimentação animal. Imagem Freepik

Afinal de contas qual é o melhor alimento para o meu animal, seja cão ou gato? Esta é uma boa questão e , na verdade, a resposta é bem complexa. Devemos levar em consideração vários aspectos, como: qualidade, preço, praticidade, conservação, necessidades específicas do animal (por exemplo, se tem uma doença metabólica), idade; ou seja, vários pontos.

Algumas pessoas optam apenas pela ração, é a opção mais comum, pois é mais prática, o alimento pode ser conservado por muito tempo, é balanceada especificamente, tem muitas características positivas para o nosso amigo. Mas alguns tutores preferem preparar o alimento, com ingredientes naturais, porém, como para tudo, teremos pontos positivos e também negativos. Vamos conhecer alguns desses pontos, das principais opções, que darão uma base para sua tomada de decisão:

Ração
Precisamos lembrar que nós, e os cães, estamos juntos por cerca de 15 mil anos – este é o período de domesticação desta espécie. Um longo tempo juntos, mas a ração faz parte da alimentação desses animais só mais recentemente. Alguns cães não se adaptam bem a essa opção, principalmente se foram alimentados, nos primeiros meses de vida, com comida natural. Contudo as rações são preparadas por especialistas em nutrição animal, há muitos estudos que procuram conhecer as necessidades de cada animal especificamente. Temos rações para idades diferentes, para doenças que exigem alimentação especial, para raças de animais que são mais exigentes; ou seja, uma ampla variedade que faz da ração uma opção muito importante. Não podemos desprezá-la.

A ração seja ela qual for, mas particularmente a seca, pode ser conservada por muito tempo e permanecer disponível para o animal, aspecto que outras opções não se mostram tão eficientes quanto. Caso seja mantida em condições apropriadas, é a opção mais longeva. Um exemplo: existe no mercado comedouros preparados que liberam a ração, pouco a pouco, em determinados espaços de tempo, que podemos regular, função que nunca seria viável com outra opção alimentar.

Então, por fim, pondere se a ração não é a opção mais interessante para a condição específica do seu animal.

Alimentação natural
Esta é uma opção mais recente. Veja bem, alimentação natural não é dar restos de comida, sobras do nosso almoço para nossos animais. Nos últimos anos podemos ver opções no mercado que oferecem alimentos naturais preparados especificamente para o seu cão ou gato. Inclusive com serviços de delivery. Essa alternativa pode ser interessante, mas somente se preparada por profissionais da área, como: médicos veterinários, nutricionistas veterinários ou zootecnistas.

Preparar a alimentação de um cão deverá levar em conta muitos aspectos, por isso você vai precisar da ajuda desse profissional ou então estudar os alimentos que poderão ser utilizados; ou seja, você vai ser o gastrônomo do seu pet. Você irá preparar o cardápio, selecionará ingredientes etc., etc. Por exemplo, você terá de evitar pimenta, alho, cebola, condimentos em geral. Legumes, verduras e frutas, de modo geral, poderão ser usados, claro, sempre teremos as exceções, que podem causar intoxicações de diversos tipos. Então estude, pesquise, caso seja essa a sua opção.

Exatamente da mesma maneira que para a ração, esta opção tem também suas vantagens e desvantagens. Como vantagem principal podemos destacar que ao usar alimentos naturais, os conservantes e demais itens indesejáveis (presentes nas rações) serão eliminados, porém…, sempre existe um porém…, a durabilidade desta opção é bem mais reduzida. Então, como no exemplo da ração, se você for deixar seu amigo um longo período sozinho, esta opção não será viável, aspecto que a ração atende muito bem, se mantida nas condições apropriadas (especialmente no que se refere à temperatura e umidade). Outro problema para a alimentação natural, é que deve ser preparada com uma frequência bem maior; ou seja, você terá de conservá-la em porções menores, oferecendo ao animal assim que preparada.

Hoje temos inclusive alternativas que levam em consideração opções filosóficas de vida, como vegetarianismo, ovo-lacteo-vegetarianismo, veganismo etc. Entretanto, um alerta, lembre-se, nós podemos fazer essa escolha, por essa ou aquela vertente filosófica, mas tanto cães, como gatos, são carnívoros. Isso é importante e deve ser levado em conta.

Não podermos confundir algo que eu desejo para minha mente e corpo e obrigar meu animal ser partícipe. As espécies que compõem a ordem carnívora (incluindo-se aí o cão e o gato) possuem adaptações e características morfológicas e fisiológicas que exigem o consumo de carne – proteína de origem animal. Evidentemente alguém pode dizer que seu animal vive sem comer carne (ou proteína dessa origem), mas o animal terá prejuízos em seu desenvolvimento. Não podemos nos esquecer de que a evolução trouxe essas espécies até o presente momento sob essa opção alimentar, e não será apenas alguns anos mantendo seu animal sem comer carne que fará dele um companheiro plenamente adaptado à sua opção de filosofia de vida.

Cuide bem do seu animal, sem antropomorfizá-lo; ou seja, sem transformá-lo em humano, ou algo parecido com isso, ele não o é. Respeite as características da espécie. Ele, ou ela, não será melhor, ou pior, por se alimentar dessa ou daquela opção. Nós podemos optar, lembre-se que ele, ou ela, não tem esse nível de consciência.

Gelson Genaro
Médico veterinário formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Jaboticabal (SP), com mestrado e doutorado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP em Fisiologia. Professor da disciplina Bem Estar Animal, no Centro Universitário Barão de Mauá, de Ribeirão Preto (SP)