Os animais podem realmente prever algo que está para acontecer?

Gato Oscar

Os animais possuem habilidades especiais? Todos nós concordamos ? Morcegos, golfinhos, cães, etc, cada um possui alguma capacidade especial, oriunda de sua biologia em particular, nada de especial, é uma capacidade peculiar à sua espécie. Porém alguns desses exemplos são muito especiais, fazendo desse assunto algo realmente curioso.

Por exemplo, qual seria a razão para um animal prever a morte de uma pessoa? Particularmente de uma pessoa que este animal não está diretamente ligado? São muitas as histórias que ressaltam essas habilidades, porém de modo geral, todas sempre o fazem quase que fantasmagoricamente, não é mesmo? Dando a sensação de que não merece atenção, por ser algo duvidoso ou falso.

Contudo, e se essa história fosse registrada numa importante revista científica, ou melhor numa das mais importantes revistas médicas do mundo, a New England Journal of Medicine, por exemplo?

A história do gato Oscar aconteceu na Clínica Repouso e Enfermagem Steere House em Rhode Island, por volta do ano de 2007. A clínica mantinha alguns animais para o que chamamos de TAA (Terapia Assistida por Animais), existem várias denominações, mas de modo geral e bem rapidamente, é a terapia que lança mão do contato entre pacientes e animais (devidamente preparados), como cães, pássaros e etc, para melhorar a condição de vidas dessas pessoas. E dentre vários animais esta clínica mantinha como pet um gato, chamado Oscar, nascido em 2005, um gato mais do que especial.

São muitas as histórias de gatos e bruxas, símbolos associados à vida após a morte, e uma infinidade de histórias assustadoras sempre relacionadas à capacidade desse animal comunicar-se com os mortos.

E para o assombro de todos, Oscar foi capaz de prever – pouco tempo antes –  mais de 50 vezes o falecimento de idosos, mantidos na clínica para cuidados médicos. Pode parecer óbvio, prever a morte de uma pessoa idosa com doença grave, a princípio, só a princípio. Todos os idosos estavam sob tratamento, ou mesmo em estado precário de saúde, contudo Oscar foi capaz de prever os falecimentos em questão de horas, poucas horas antes. E essa capacidade foi percebida, a ponto da clínica basear seu procedimento de aviso de morte iminente para os familiares, quando este animal manifestava uma aproximação específica dos idosos.

Você pode consultar diretamente informações sobre esse gato tão especial em http://www.steerehouse.org/oscar/o_images.

Oscar: o gato capaz de prever a morte, ou ele ia ainda mais longe em suas razões?

Animais são capazes de obter informações pelo odor, ou outros sentidos, aspecto que para nós é algo difícil para dimensionar, dada nossa capacidade sensorial. Entretanto isso não é o que realmente surpreende, há trabalhos com cães que detectam drogas em aeroportos, por exemplo, entretanto esse cão recebeu um treinamento para tal tarefa, não é o caso de Oscar. Ele não foi treinado intencionalmente para prever a morte dos idosos.

Quando treinamos um animal, ele recebe uma tarefa para executar e com sua taxa de sucesso aumentando recebe prêmios, e desse modo vai acertando mais e mais. Isso não ocorreu no caso de Oscar.

Por quais razões o animal foi sendo capaz de melhorar sua taxa de detecção de mortes entre os idosos? A recompensa é algo que estimula o animal, sendo que podemos otimizar essa condição, mas Oscar fez esse treinamento, se é que podemos chamar assim, sozinho. Qual seria sua recompensa? O que o atraiu para as pessoas que estavam prestes a falecer? Será que ele tentava confortar as pessoas? Bom, nesse caso, isso sendo correto, aí é que vamos ficar ainda mais perplexos com esse gato. Precisamos lembrar que ele não estabelecia ligações especiais com as pessoas que iriam falecer, pois ele era o mascote da clínica, e não o companheiro individual de cada uma destas pessoa.

É, pelo visto ainda vamos precisar pesquisar muito para entender essa e outras capacidades dos nossos amigos.

Gelson Genaro
Médico veterinário formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Jaboticabal (SP), com mestrado e doutorado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP em Fisiologia. Professor da disciplina Bem Estar Animal, no Centro Universitário Barão de Mauá, de Ribeirão Preto (SP)