Doação Pet – Quem realmente decide?

Ana e Garú

Quando você adota, ou compra um cão ou gato, quais aspectos você leva em consideração? Provavelmente: a cor do animal, a raça, o sexo, etc, não é mesmo? Mas quem escolhe quem? Só você decide? O animal tem algum poder nessa decisão? É só você – que realmente – vai decidir essa questão?

Nick

Pois saiba que nem sempre essa decisão é assim tão exclusivamente nossa, dependente da nossa vontade. Não somos tão onipotentes nessa situação. Os animais podem interferir quando esta situação está em curso, e vamos levar um novo amigo para casa.

Como isto acontece? Em artigo publicado na revista científica Science (http://www.sciencemag.org/news/2017/06/crazy-faced-cats-don-t-win-adoption-game) e também na revista Applied Animal Behaviour Science (https://www.journals.elsevier.com/applied-animal-behaviour-science/) os autores discutem tais questões. O mais curioso é que cães e gatos adotam estratégias diferentes. Cães são mais expressivos em suas manifestações faciais, os pesquisadores detectaram que o animal que executava mais expressões faciais, como por exemplo, levantar a sobrancelha tinha maiores chances de ser adotado. Já os gatos eram mais estratégicos em se esfregar em objetos próximos.

Tal diferença deve-se a domesticação, o cão foi submetido a este processo muito tempo antes do gato. Provavelmente isso ocorreu com o cão 15.000 anos atrás, já para o gato, no máximo 9500 anos atrás. Também as condições para essas duas domesticações foram diferentes – mas isso será motivo para outro artigo – o que devemos destacar aqui é que aspectos que foram selecionados nestes animais, hoje são os fatores que determinam essa questão: escolher um animal que será nosso futuro companheiro.

Durante os dois processos de domesticação os animais foram sendo submetidos a uma determinada pressão sobre suas características, e aqueles que respondiam mais rapidamente, e com maior taxa de sucesso, eram beneficiados com melhores condições, e essa característica foi sendo mantida até os dias atuais.

Bichano

O animal também percebe detalhes em nosso comportamento e assim responde mais rapidamente, ou seja, há uma dupla forma de avaliação, nossa e do animal. Isso faz deles modelos que desejamos, mesmo que inconscientemente, ou seja, esse detalhe pode não estar sendo privilegiado conscientemente, mas é a razão do sucesso deste animal em questão, ser escolhido por nós quando de uma situação em que temos de escolher alguém.

Quando perpetramos a domesticação com estes animais, as condições foram sendo modificadas, hoje procuramos características diferentes neles, contudo as duas espécies em particular (lembre-se que domesticamos outras tantas espécies também) estão conosco há muito tempo e já são frutos de todo este processo.

Portanto lembre-se, da próxima vez que você fora adotar, ou até mesmo comprar, um novo companheiro, a escolha é parcialmente sua, deixe que a empatia entre você e seu novo companheiro flua. Isso vai fazer com que essa nova amizade seja mais sólida e verdadeira.

P.S. – Todos os animais das fotos foram adotados 

Gelson Genaro
Médico veterinário formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Jaboticabal (SP), com mestrado e doutorado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP em Fisiologia. Professor da disciplina Bem Estar Animal, no Centro Universitário Barão de Mauá, de Ribeirão Preto (SP)