O canto e a inspiração em pauta

Por: Maria Yuka de Almeida Prado

O canto e a respiração têm uma relação simbiótica que traz à tona o que está nas latências da alma. Apesar de estarmos respirando o tempo todo, desde o momento do primeiro choro, é uma das artes mais complexas no estudo do canto.

O grito do nascimento é nossa primeira expressão fundamental! Assim é o suspiro, que sucede nos anos subsequentes, explosão de algo, contido em nós. O riso e a gargalhada, o êxtase e o último ato antes de partirmos são também esses movimentos de inalar e exalar do ar, mais intensos, que permeiam nossa existência.

Segundo os chineses, que são obcecados com a alimentação balanceada e equilibrada, respirar bem é mais importante que uma boa nutrição. Podemos ficar dias, até meses, sem comer, e sobrevivemos. Entretanto, poucas pessoas bem treinadas, tais como alguns mergulhadores, podem ultrapassar os três minutos debaixo d’água.

Então, por que temos que aprender a respirar bem, se o ato é instintivo já ao nascer? É como aprender a correr, que exige muito aprendizado para saber fazê-lo de forma que não lesione o corpo, mesmo que façamos essa atividade desde sempre. Ao nascermos, respiramos corretamente. Observem um bebê deitado. Sua respiração é abdominal. Com o tempo ela vai subindo até a região torácica, impedindo, dessa forma, uma troca gasosa mais aprofundada.

Exalamos o ar, no nosso dia-a-dia, em uma ação passiva e inspiramos ativamente. Entretanto, no canto ou em uma atividade física que requer esforço, o ato de inspirar é passivo, enquanto o de expirar é ativo. E é, nesse contexto, que ocorrem também os treinos de respiração para cantar, aliados ao controle de ar, postura, propriocepção, entre outros exercícios.

Respirar bem é imprescindível para todos, independentemente se é cantor ou não. Se você está interessado em desenvolver essa habilidade tão saudável, há vários caminhos. Atividades como yoga, tai-chi-chuan, meditação, natação, trabalho fonoaudiólogo são algumas opções que estão próximas de nós. E se você quer envolver-se com o canto, sem excluir essas outras sugestões, professores de canto podem proporcionar, ludicamente, toda essa inspiração.

Maria Yuka de Almeida Prado
Soprano, professora-doutora em Canto pela USP, Coordenadora do Laboratório de Performance e Ciências do Canto e Membro do Núcleo de Apoio à Pesquisa do Laboratório de Ciências da Performance do Departamento de Música da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. Bacharelado em Canto pela Faculdade de Música Kunitachi e especialista em Canção Japonesa e Francesa pelo Centro de Pesquisa de Canções Japonesas e Francesas em Tóquio, Japão.