Quem nunca passou por algum transtorno quando a energia elétrica é interrompida? Geralmente, solicitamos reparos à companhia responsável pelo fornecimento de energia, mas, dependendo da gravidade, o conserto pode demorar. Evitar esses aborrecimentos é uma das preocupações dos pesquisadores das Smart Grids: sistemas inteligentes de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica de forma sustentável.
“Hoje tudo é feito manualmente e as redes de energia não são monitoradas. É por isso que as empresas de distribuição só tomam ciência do problema quando moradores registram reclamações”, explica Eduardo Asada, professor do Departamento de Engenharia Elétrica e de Computação (SEL) da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP.
E como as Smart Grids podem ajudar a contornar a situação? Segundo Eduardo, pesquisadores estão estudando a criação de rotas alternativas que levariam energia elétrica para regiões afetadas enquanto os reparos são feitos. Com o uso de sensores na rede, seria possível detectar o problema, comunicar em tempo real à empresa, isolar a área e habilitar o fornecimento por uma rede próxima.
Produza, gerencie e venda a própria energia
Outro conceito das Smart Grids é a criação de casas inteligentes que podem produzir a própria energia. A ideia é fomentar a instalação de painéis fotovoltaicos (solares) nas casas para que a energia elétrica obtida seja armazenada em baterias e utilizada em momentos convenientes aos moradores.
“Nós vivemos em um sistema sazonal e, principalmente, no final do ano, as termelétricas entram em funcionamento, o que encarece a conta e prejudica o meio ambiente. Com um estoque de energia em casa, poderíamos suprir parte do que compraríamos das concessionárias”, diz Denis Coury, professor e chefe do SEL. Caso a energia armazenada seja excessiva, os moradores podem vendê-la para empresas.
Carros elétricos
Outra vertente das Smart Grids que também contribuirá com a redução de poluentes é a preparação das cidades para receber carros elétricos. “Ao invés de um posto de gasolina, os motoristas vão procurar um lugar para recarregar a bateria de seus carros”, comenta Denis.
Porém a missão não é simples. “Diferente de uma casa, a demanda de um carro elétrico ainda é desconhecida. Como pensar em toda a estrutura de rede elétrica sem saber como e onde esses veículos circularão? Não depende apenas de conhecer automóveis, mas também o comportamento das pessoas”, diz Eduardo.
Avanço no setor
Apesar de muitos cientistas brasileiros pesquisarem as Smart Grids, algumas barreiras impedem o avanço da tecnologia. “A área é muito conservadora e as empresas têm certa resistência”, diz Coury. Outra barreira é a falta de políticas públicas que incentivem os estudos na área.
Apesar do cenário desfavorável, algumas concessionárias brasileiras já iniciaram projetos-piloto. Como, por exemplo, a instalação de medidores inteligentes e painéis fotovoltaicos na região de Campinas (SP), além da introdução de pontos de recarga para carros elétricos no trecho que liga o município à capital paulista.