Yole Brandeburgo Azzuz Estankov

“O homem moderno acha que perde alguma coisa – tempo – quando não faz as coisas rapidamente; no entanto, não sabe o que fazer com o tempo que ganha, a não ser desperdiça-lo”
                                                                             

Erich Fromm

 

 

Sim, vamos falar de tempo. Vamos falar sobre a qualidade de urgência que atribuímos a quase
tudo na nossa vida, desconsiderando que algumas coisas podem esperar.

Há quase um ano, a humanidade se viu coagida a repensar sua rotina, muitos de nós não
podíamos mais sair pra trabalhar, as crianças não iam mais pra escola, e o lazer resumido as
paredes da nossa residência. No consultório pude acompanhar pacientes se adequando e se
reinventando pra dar conta dessa nova realidade, as respostas a um mesmo estímulo são muito
variadas, alguns felizes de economizar pelo deslocamento, esperançosos por mais tempo no seio
familiar, mas em alguma medida angustiados pela mesma questão, o que faço agora com tanto
tempo?

Acontece que o vazio nos assusta, no espaço que há entre as obrigações do dia a dia a gente
tenta preencher para fugir da sensação de estar só, vamos entrando em um ciclo de distração,
como se não soubéssemos mais estar com outras pessoas, ou consigo mesmo.

O que percebo é que o consultório psicológico é um dos poucos lugares restantes, onde duas
pessoas sentam-se juntas (mesmo que virtualmente) através de um ritual semanal de encontro,
cujo único objetivo é fala-escuta. Winnicott um teórico da psicanalise examina essa “capacidade
de estar só” como um dos sinais mais importantes do amadurecimento do desenvolvimento
emocional. Ficar só é tomar consciência de que se é um ser único e pressupõe uma condição
emocional constituída com base na confiança na comunicação consigo mesmo e com o outro.

A “capacidade de ficar só” não tem relação com a experiência de ficar só como acontecimento
real e não diz respeito ao sentimento de confinamento, angústia ou sofrimento. Ao contrário,
essa solidão é vivenciada com deleite e tranquilidade, pois o “ficar só” proporciona um vazio
cheio de possibilidades, que precisa ser sustentado para que possamos “vir a ser”.

Estar em um processo terapêutico é aprender a estar só na presença de outra pessoa, sem que
hajam intromissões, sem o desejo do outro me invada. É o encontro com um espelho que vai
refletindo aquilo que ainda não conseguimos enxergar sozinhos.

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Yole Brandeburgo Azzuz Estankov
Psicóloga – CRP 06/125364
Instagram @yoleestankov_psico
Contato (16) 99239-2881