USP Ribeirão cria anticorpo que auxilia combate ao câncer

Experimentado em modelo animal para tumor de mama e de ovário, ele obteve bons resultados; medicamento para curar a doença ainda pode demorar mais sete anos

Teste científico (Foto: Wikimedia Commons)
Teste científico (Foto: Wikimedia Commons)

O câncer é umas piores doenças que existem, e uma startup instalada na USP Ribeirão está desenvolvendo um anticorpo que auxilia seu combate. Voltada ao câncer de mama e de ovário, a substância já foi testada com sucesso em animais. Os estudos começaram em 2009, mas a disponibilização de um medicamento pode ocorrer apenas em 2024.

Depois da pesquisa básica e do término nos testes em modelos animais, são necessários cerca de cinco anos para desenvolvimento clínico e mais dois para que o remédio chegue ao consumidor final, de acordo com a pesquisadora Sandra Faça, diretora de Pesquisa e Desenvolvimento da Veritas, startup que desenvolve o anticorpo.

A substância inibe uma proteína alvo envolvida em metástase e evita a migração das células para outras partes do corpo. O anticorpo ainda reconhece o alvo na superfície das células de câncer de mama e ovário, obtidas de tecidos tumorais de pacientes. Elas destroem as células cancerosas sem atingir as não infectadas.

Nos estudos realizados em camundongos de laboratório, ele não apresentou toxicidade e se mostrou eficiente na redução do desenvolvimento de tumores preexistentes. “Ele também potencializa a ação da droga que já é utilizada, atualmente, no tratamento de pacientes”, explica Sandra.

Ela ainda conta que em modelo animal foi constatado que a combinação da droga atualmente utilizada com esse anticorpo foi mais eficiente na redução do tumor do que quando as drogas foram utilizadas isoladamente. A pesquisadora acredita que o futuro das terapias contra o câncer serão voltadas às combinações de drogas e uma medicina personalizada.

A cientista lembra que nos últimos anos, o tratamento de câncer com anticorpos monoclonais tem sido uma das estratégias mais bem-sucedidas e importantes. “Os anticorpos são reconhecidos por terem alta especificidade ao alvo e baixa incidência de efeitos colaterais”, explica

Futuro de nova droga depende de mais parceiros

A pesquisa desse anticorpo começou após uma experiência pessoal de Sandra. Depois do nascimento de seu primeiro filho, ela notou um nódulo grande na mama. Felizmente não era maligno, mas, se fosse, haveria pouco a ser feito, porque a progressão desses tumores é rápida. Por isso, a cientista alerta para a importância do diagnóstico precoce.

Depois disso, ela se uniu a outros dois pesquisadores e criou a startup Veritas. Mas alguns estudos ainda precisam ser realizados antes que a nova molécula seja testada em pacientes. “Considerando que encontremos um parceiro para viabilizar esse processo em breve e que os resultados apresentem benefícios aos pacientes tratados, acreditamos que levaria mais cinco ou sete anos para atingir a etapa de comercialização para tratamento de seres humanos”, afirma.

O próximo passo será identificar os pacientes mais indicados para o tratamento com o anticorpo e expandir o estudo para outros modelos de câncer mais letais, como os de ovário, cervical, pulmão e pâncreas. “Esperamos fechar com sucesso um ciclo de desenvolvimento de um produto biotecnológico inovador no Brasil e conseguir parcerias com uma grande empresa farmacêutica e um hospital para seu desenvolvimento clínico e comercial.”