Lucas Garcia

Fiz um resumo dos impactos que o Coronavírus está causando na economia brasileira e no mundo. Utilizando a opinião nos analistas e heads da XP e minha interpretação pessoal, abordo os temas: Macroeconomia do Brasil; Coronavírus; Mercados Globais; Impactos no Brasil; Câmbio; Histórico de crises mundiais; Lições com a crise; Comportamento do Brasil.

Aproveitem a leitura e qualquer coisa, estou à disposição.

Macroeconomia do Brasil (Início de 2020)

  • O Brasil veio de anos muitos duros para a economia, ocasionados por graves recessões em 2015 e 2016. Por outro lado, fora do Brasil, o mundo cresceu a taxas bem interessantes no mesmo período. Portanto, o Brasil estava atrasado em relação ao resto do mundo.
  • Por estar atrasado e pelo ciclo econômico dos outros lugares começar a dar sinais de desaceleração em 2020, o Brasil tinha um potencial de deslanchar muito grande.
  • Outros fatores também eram fortes indicativos pro crescimento do país: 1) Ter uma agenda de reformas pra ser aprovada. 2) Ter juros mais altos que o resto do mundo, podendo fazer cortes e estimular a economia. 3) Ter um grande fluxo migratório de investimentos em Renda Fixa pra investimentos na Economia real (mercado de ações, empreendimentos, etc).
  • O início de 2020 vinha numa crescente muito forte, considerada a principal das reformas, a reforma da previdência já tinha sido aprovada e expectativa era o mesmo caminho para as reformas administrativa e tributária. Também era alta a expectativa de mais cortes de juros.
  • O Brasil, que até então não tinha saído da armadilha de crescer na faixa de 1%, tinha como previsão superar os 2% em 2020.

Coronavírus

  • Esse cenário tão positivo de alguns meses atrás convergiu para uma grave crise que estamos vivenciando hoje. Vamos aos motivos:
  • Impacto direto na oferta e demanda mundial. Os impactos na oferta foram causados, prioritariamente pelas quarentenas, o fechamento de fábricas na China gerou atraso na produção de produtos essenciais, causando um impacto nas cadeias de produção global por que grande parte dessa cadeia passa pela China. E os impactos na demanda são gerados por que a partir do momento que o mundo inteiro entra em quarentena pra tentar controlar o vírus, há uma grande restrição de demanda global.
  • Embora seja necessário pra achatamento da curva de transmissão do vírus, o impacto econômico das quarentenas é muito forte. Como exemplo: Na China, alguns economistas estão prevendo o PIB do 1º trimestre caindo 8%, 9% e alguns falando em até 10% (algo inédito na história).

Mercados Globais

  • Os mesmos impactos da China em relação a produção industrial, vendas do varejo, crescimento do PIB, passa a ser preocupação do mercado do mundo todo e a possibilidade de acontecer o mesmo na Europa, EUA, Brasil, Américas traz uma recessão global.
  • Em cenários de recessão global, os lucros das empresas são bastante impactados e isso impacta diretamente o preço das ações. Além disso, as métricas de aversão a risco e prêmio de risco sobem nesse cenário, também causando impacto no preço das ações.
  • Neste momento, é importante entender que a crise é muito forte e que ninguém sabe se vai durar 1, 2, 3 meses ou mais e nem sabe como será a recuperação do mundo depois, que poderá ser uma recuperação “em V” (mais rápida) ou uma recuperação “em U” (um pouco mais lenta).
  • Também é importante saber que os governos mundiais estão atuando fortemente pra conter a crise. Medidas do congresso, estímulo dos Bancos Centrais, entre outros estímulos na economia.

Impactos no Brasil

  • Além do Coronavírus, existe mais 2 fatores que impactaram o mercado brasileiro e também mundial: 1) Crise do petróleo e 2) Cenário político conturbado.
  • Crise do petróleo: Em meio a tudo isso, a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), que é um cartel formado pelos principais produtores de petróleo do mundo, tiveram reunião pra falar sobre potenciais cortes de produção de petróleo nesse cenário de demanda reprimida pelo Coronavírus: Cancelamento de voos, entre outras coisas. E o que aconteceu foi que aparentemente, a Rússia e Arábia Saudita não chegaram a um acordo. A Rússia não queria cortar e a Arábia Saudita tinha proposto corte de produção forte e saíram da reunião sem acordo. No dia seguinte, durante o final de semana, a Arábia Saudita não só não cortou a produção, como aumentou a produção em mais de 20% e começaram a dar fortes descontos de preço no petróleo, resultando na maior crise de queda de preço do petróleo em 30 anos, caindo mais 30% em um só dia e desde lá acumula queda de 40%. Foi visto preços de petróleo que não eram vistos em décadas. Isso impacta todas as empresas petroleiras do mundo e consequentemente o IBOVESPA pela concentração de commodities.
  • Cenário político conturbado: Era esperado uma agenda de reformas mais atuantes (reforma administrativa e tributária) e isso traria pro Brasil grandes benefícios de aumento de eficiência e melhora de competitividade no longo prazo. Porém, nas últimas semanas, o que conseguimos ver é um grande desencontro entre o poder executivo e legislativo, várias farpas sendo trocadas entre os poderes, desentendimento entre o presidente da república e os presidentes da câmara e do senado. E com esse cenário político deteriorado, as reformas ficam no ar, gerando dúvida se vão ser aprovadas e quando isso acontecerá. A expectativa da sociedade é um avanço em relação as reformas, que serão muito importantes para o país, consequentemente a expectativa que fica é que o cenário político normalize o quanto antes.
  • Esses 3 fatores (Coronavírus, crise do petróleo e cenário político conturbado) fizeram o preço das ações caírem cerca de 35% desde o início do ano, e além disso vemos o cambio em patamares nunca antes visto. (Ex.: Dólar a R$5)

Câmbio

  • Em relação ao câmbio, alguns fatores específicos do Brasil e outros não específicos do Brasil contribuem pra essa movimentação recente.
  • Dentre os fatores específicos do Brasil podemos elencar o balanço de pagamentos do Brasil ser deficitário, pressionando nossa moeda pra baixo e o dólar pra cima e também podemos citar o baixo diferencial de juros atual em relação ao mundo. O Brasil vem cortando os juros nos últimos anos e hoje, mesmo um pouco mais alto, não se diferencia tanto do mundo, e o fluxo de capital especulativo exterior na Renda Fixa brasileira que era bem grande pelos juros serem altos, vem diminuindo, e esse fluxo havio sobrevalorizado o câmbio no Brasil.
  • Dentro os fatores não específicos do Brasil. Podemos citar a corrida de todas as moedas para o dólar. Dado o cenário de aversão a risco em alta, a movimentação dos investidores nesse cenário é de buscar ativos de menor risco e a tendência é ir de encontro aos títulos do tesouro americano, que são considerados ativos com menor risco do mundo. Portanto, os investimentos de forma geral passam a ser dolarizados e saem de outras moedas, principalmente moedas de países emergentes. Nesse caso, não é só a moeda do Brasil que desvaloriza e sim todas as moedas de mercados emergentes.

Histórico de crises mundiais

  • A crise gerada pelo Coronavírus não é a primeira e nem a última da história.
  • Crise de 1929: Conhecido como primeiro financial crash do mundo. Na década de 20 os EUA cresceram muito e esse crescimento absurdo da economia americana se deve ao forte fornecimento de tudo pra Europa. A Europa, por sua vez, estava destruída pela primeira guerra que acabou em 1918 e então os EUA aproveitou a situação pra fornecer desde roupas, alimentos, carros, demais bens de consumo, entre vários outros insumos essenciais. A medida que a economia europeia foi se reerguendo, os países foram produzindo por si mesmo, a demanda que tinha com os EUA foi diminuindo e a economia americana começou a desacelerar. Os efeitos de uma recessão começaram a aparecer, desempregos foram causados e isso levou a um ligeiro pânico que fez com que pessoas tirassem seus investimentos do banco. Como estamos falando de 1929, cenário onde tudo é muito novo, os bancos e instituições financeiras são novos e ganhando corpo, a regulamentação é muito falha o que se viu foi um efeito manada de corrida aos bancos. O amigo tira, o vizinho tira, tanto investimentos, como conta corrente e os bancos não tinham o que fazer pois estavam muito alavancados, levando então a uma crise horrível dos EUA dos próximos 10 anos, conhecida também como “A grande depressão”.
  • Década de 70 (Várias pequenas crises): Várias crises nesse período foram causadas, prioritariamente pelo petróleo e conflitos geopolíticos no Oriente Médio. Problemas com a oferta do petróleo e os conflitos geopolíticos entre a OPEP (que tinha acabado de ser criada) e os países ocidentais fez o preço disparar. O preço subindo muito, bateu a inflação nos EUA no final da década de 70, fazendo com o que o presidente do Banco Central americano (Paul Volcker) subisse a taxa de juros pra incríveis 20%, ocasionando outras crises no mercado emergente.
  • Crises no mercado emergente: O mercado emergente (Rússia, México, leste asiático e posteriormente Brasil e Argentina) sofreram crises ao longo das décadas de 80 e 90. O motivo é que estavam muito alavancados e foi gerado crise com a divida externa. Esses países pegavam muito emprestado com esses países do Oriente Médio (que estavam ricos com o petróleo lá no alto) e a subida brusca da taxa de juros americana, fez a dívida externa explodir.
  • Crise dos Ponto.com: Crise centralizada nos EUA. Aconteceu do meio da década de 90 até o começo dos anos 2000. Os países emergentes ainda estavam saindo do buraco e os EUA já entrando em outra crise. Em meados de 1994, diversas empresas de tecnologia surgiram e criaram várias coisas novas, como exemplo podemos citar computadores pessoais, celulares, crescente da internet e com isso, todo mundo no mercado financeiro achou uma ótima ideia investir nessas empresas, esperando grande lucros e crescimento exponencial. Porém, ao longo da década de 90, o que foi visto é quer nem todas as ideias eram boas, algumas não davam lucros e nem eram grandes como todos imaginavam. Em paralelo, os EUA estavam vindo de uma época de juros baixos no começo da década de 90 e então começou a subir os juros por conta da economia, o que levou os investimentos em Renda Variável ficarem menos atrativos e as empresas mais alavancadas. Foi aí que estourou a bolha das Ponto.com ou também conhecida bolha da internet.
  • Crise do Subprime (2008): Essa crise é a mais famosa, mais relatada e mais recente. Com origem no setor imobiliário dos EUA. Com o cenário de juros baixo e a constante busca por investimentos que rendam mais, as pessoas começaram a se alavancar excessivamente no setor imobiliário, comprando uma hipoteca, depois hipoteca dessa outra hipoteca e assim por diante e isso fez surgir várias pessoas que, em teoria, não tinha condições de ter 2 imóveis, mas tinham 3, 4 ou mais imóveis, pois usavam uma hipoteca como prova da outra e julgavam um ótimo investimento. Pra completar esse cenário bagunçado, as instituições financeiras “empacotavam” essas hipotecas dessas famílias, passavam por agencias de ratings que avaliavam com “AAA” e vendia esses títulos podres “junk bonds” como super seguros aos investidores e a bolha foi crescendo. Com a quebra do Lehman Brothers, em 2008, todos começaram a ver o que tinha por trás e nesse momento tinha muitas instituições financeiras completamente alavancadas nesses derivativos, tanto nos EUA que concentravam a maioria, quanto na Europa. O que ocasionou um colapso e a crise mundial de 2008 (Bolha do Subprime)

Lições com a crise

  • Com a crise atual e um histórico breve das crises passadas, nós conseguimos tirar como lição algumas coisas:
  • O mercado é cíclico e muitas crises, em geral, são parecidas, parecendo história repetida.
  • As causas pra uma crise são muito parecidas (excesso de liquidez no sistema, falta de uma regulação [como visto em 1929] ou regulação que não acompanha as inovações financeiras [como em 2008 com a falta de regulação dos derivativos], alavancagem excessiva [seja das instituições, das empresas, das pessoas, ou de todos].
  • Causas comum geram reações comuns (Pânico, comportamento de manada, predomínio da irracionalidade).
  • TUDO QUE VAI, VOLTA!
  • Outro fator a se considerar em uma crise é a atuação do governo, que pode demorar mais ou menos pra agir diante dos acontecimentos fazendo com que a recuperação seja mais rápida ou mais lenta.

Comportamento do Brasil

  • Embora tenha uma economia relativamente fechada, e um sistema bancário/financeiro considerado sólido, o Brasil não é uma ilha.
  • Isso significa que o país sofrerá tanto em crises importadas (mundiais) quanto em crises domésticas.
  • Os impactos de uma crise mundial, podem chegar com turbulências menores que o mundo aqui no país, e normalmente quando a crise é importada, nós voltamos mais rápido de acordo com as escolhas político-econômicas. Em contrapartida, usando como exemplo a crise mundial de 2008, essas escolhas fizeram o Brasil ter uma rápida recuperação, porém segurar por muito tempo gerou uma grave crise doméstica (interna) em 2015/2016 mostrando uma recessão no PIB maior que em 2008 e uma recuperação mais lenta.
  • O ponto positivo é que com as crises, nos tornamos mais resilientes e as empresas, de forma geral, evoluíram muito em resposta as crises. (diminuindo alavancagem, aumentando caixa, entre vários outros fatores que as deixaram mais fortes e resilientes pra esses momentos cíclicos do mundo).

Leia mais: 
Juros nas mínimas históricas
O poder dos juros compostos

Lucas Garcia
Assessor de Investimentos (Thera Investimentos, escritório credenciado à XP desde 2008)
(16) 98160-2564 | lucasgarcia@therainvestimentos.com.br