Ribeirão Sul

De vez em quando, fico saudosista. Tenho saudades do cheiro do misto quente ficando crocante naquelas sanduicheiras individuais, que se colocava diretamente em cima de uma boca de fogão acesa, sabe? Outro dia, passeando em Porto Ferreira, achei uma de ferro. Coisa mais linda. Não resisti.

Eu sempre amei chá mate com bolacha. Quando pequena, era meu café-da-manhã preferido. Mas não qualquer bolacha: estou falando daquelas rosquinhas de coco, de buraco no meio, que vinham bagunçadas em um saquinho. Molhava cada uma no chá quente e doce, até que ficasse macia o suficiente para derreter na boca, mas sem quebrar. Comia uma bolacha, dava um golinho, comia outra bolacha, dava outro golinho… Até que sobrava uns três dedos de chá na xícara. Aí chegava a parte mais gostosa. Eu colocava umas bolachas quebradas ali, esperava elas absorverem o restinho do chá, e mexia bem. Virava uma argamassa digna de qualquer pedreiro de respeito. Eu comia tudo com a maior cara de criança feliz.

Sobre coisas que se pode mergulhar no chá mate: algumas vezes a vítima era uma fatia de pão francês com maionese. Juro. O gosto está na memória, e tenho que admitir: não era de todo ruim, não. Não comeria de novo nem amarrada, mas quando eu era criança, aconteceu de eu pedir mais de uma vez… ¯\_(ツ)_/¯ )

Minha memória gustativa é tão ligada ao emocional, que eu acho que não vejo alguns alimentos como comida, mas como mini máquinas do tempo comestíveis. Basta uma nota no ar, ou na boca, ou alguma foto, que me transporto diretamente para outra época.

Cresci, meu paladar evoluiu, fiz da comida minha profissão. Mas de vez em quando, minha criança interior quer atenção, fica birrenta e insistente e pede alguma coisa que meu “eu” adulto já não aprova mais. Então, como não posso mais fugir da informação e alegar inocência, rola uma briguinha interna sempre que me dá vontade de comer algo que já não pode ser visto com a mesma inocência que era há algumas décadas.

Quando bate aquela vontade de comer algo da minha infância, pulam palavras na minha frente, doidas por atenção: Glúten! Processados! Aditivos alimentares! Sódio! Gordura saturada! Açúcar!

Às vezes, dou uns petelecos nelas pra longe, deixo a criança ganhar, e como em paz.

Hoje é um desses dias!

Faz algumas semanas que estou com vontade de comer torta Berenice. De vez em quando minha mãe fazia, usando a receita de uma amiga dela, que tenho até hoje.

Essa receita é para minha criança interior. Vai lá, coma tudo, fique feliz, e amanhã a gente volta à vida normal.

Porque a vida já é complicada demais para levar tudo muito a sério, o tempo todo.

Valeu, Berenice.

Seja lá você quem for, sua torta é 10 =D

TORTA BERENICE

Massa:

1 ½ xíc. farinha de trigo

1 xíc. óleo

3 ovos

1 xíc. leite

1 colh (chá) sal

1 colh (sopa) fermento químico em pó

Recheio:

100g de presunto fatiado

100g creme de leite (de caixinha ou de latinha sem soro)

100g de muçarela fatiada

Coloque no copo do liquidificador o óleo, os ovos, o leite e o sal. Bata rapidamente, acrescente a farinha e bata novamente até obter uma massa lisa. Coloque o fermento, e pulse apenas para misturar. Despeje metade da massa em uma assadeira untada com óleo e enfarinhada. Arrume as fatias de presunto, cobrindo a massa. Por cima do presunto, coloque o creme de leite temperado com um pouquinho de sal, e por cima dele as fatias de muçarela. Cubra tudo com o restante da massa, e leve ao forno pré-aquecido (180° C), por 30-35 minutos, ou até ficar levemente dourada.

Variações: coloque umas folhinhas de manjericão misturadas ao creme de leite; use outros recheios, como atum ou frango desfiado; troque o queijo, ou coloque mais de um tipo; use requeijão misturado ao creme de leite, ou creme de ricota, ou cream cheese; tempere a massa com orégano, ou folhinhas de tomilho fresco, ou com cebola e alho em pó, ou com parmesão ralado.

Lembre-se sempre de não misturar muitos sabores marcantes, para que sua torta não vire um festival de gostos e aromas que podem não fazer muito sentido. Escolha aqueles que você acha que vão combinar, e vá em frente!

Chef Sabrina Galli

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